terça-feira, 10 de abril de 2007

Memória duma noite - Parte 2

A meia-luz que nos envolvia permitiu-nos compor a roupa que se estava a tornar desnecessária e possibilitou ao Carlos e à Joana fazerem de conta que nada viram. Mas os olhos escuros de Joana, repletos dum brilho traquina, aliados ao meu embaraço quando o meu braço roçou o seu peito ao servir um chá tardio deixavam bem claro que o sofá da sala não estava a ser palco dum ensaio de canto atonal quando entraram em casa. Se não corei levemente, pelo menos senti-me ruborescer ao dar conta que a Joana fazia de propósito para que o seu mamilo roçasse no meu braço, esticando aparentemente com distracção a mão até ao cesto dos scones.

Chegado o momento do cigarro antes de dormir, foram os fumadores até ao terraço, o que no caso concreto incluiu a Joana e eu. A noite estava fresca, convidando a ficarmos próximos um do outro como costumávamos fazer nestas alturas. Não me sentia particularmente inclinado para cavalheirismos, pelo que acendi primeiro o meu cigarro. Mantendo o isqueiro aceso, ofereci a chama à Joana, que aceitou pegando na minha mão e rondando o corpo na minha direcção. De novo, o seu peito ficou colado a mim e à luz fraca do isqueiro, olhámo-nos nos olhos. Os meus deviam fazer alguma pergunta pois nos de Joana li provocação. Não sei se foi a sua mão que me puxou enquanto procurava acender-lhe o cigarro, se apenas nisso quis acreditar. Corpo contra corpo, com pernas entrelaçadas, senti a sua cintura delgada, tão fácil de contornar com os braços, colar-se a mim enquanto explorávamos as nossas bocas num linguado cheio de tesão.

É curioso agora pensar nisso pois na altura não tinha consciência se era a Joana ou tu quem ali estava. Mais parecia que sedução de alguns momentos antes apenas estava a ter continuação. No entanto, ali estamos nós, a namorada do Carlos e eu num flirt atrevidíssimo.

(continua)

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Papoilas

Se pudesse voltar a viver a minha vida,
Da próxima vez gostava de fazer mais erros.
Descontraía. Faria mais disparates.
Levaria menos coisas a sério.
Corria mais riscos. Acreditava mais.
Subia mais montanhas e nadava em mais rios.
Convidava os amigos, mesmo que tivesse nódoas na carpete.
Usava a vela em forma de rosa antes de ela se estragar no armário.
Sentava-me na relva com os meus filhos
Sem me preocupar com as manchas verdes na roupa.
Tinha rido e chorado menos em frente da televisão
E mais em frente da vida.
Tinha contado mais anedotas e visto o lado cómico das coisas.
Tinha descoberto menos dramas em cada esquina
E inventado mais aventuras.
Se calhar, tinha mais problemas reais,
Mas menos problemas imaginários.
É que, sabem, sou uma dessas pessoas que vive com sensibilidade
E sanidade hora após hora, dia após dia.
Oh, tive os meus momentos, e se pudesse fazer tudo de novo outra vez,
Tinha muitos mais.
De facto, não tentaria ter mais nada.
Apenas momentos, uns após outros,
Em vez de viver tantos anos à frente de cada dia.
Fui uma dessas pessoas que nunca foi a lado nenhum
Sem o termómetro, botija de água quente, casaco para a chuva e pára-quedas.
Se pudesse fazer tudo outra vez, viajava mais leve do que viajei.
Se tivesse a minha vida para viver de novo
Começava mais cedo a andar descalça na Primavera,
E ficava sempre assim, mesmo mais tarde, no Outono.
Ia a mais bailes.
Cantava muitas mais canções.
Diria muitos mais “Amo-te” e “desculpa”.
E apanharia mais papoilas.

Nadine Stair, 85 anos

A vida ...

A vida é bela
O mundo é maravilhoso
Quando for grande, quero ser feliz … vou ser muito feliz!

E tudo não passou de sonhos, de fantasias, de esperanças vãs …

Um dia acordei e tinha crescido … e nada dos meus sonhos, os quais outrora eu fantasiara serem aspirações válidas, legítimas!

Que és tu afinal existência minha? Porque estou eu aqui, para que serve este viver sem rede e sem tino, este velejar sem norte e sem destino … ao sabor da incerteza e de um sopro perene e cruel

Estou cansada, sem forças e sem alma.
Desisto, não luto mais!
Adeus

domingo, 1 de abril de 2007

Memória duma noite - parte 1


Trago nas mãos a memória do teu peito estumescido, dos teus mamilos rijos, espetados na palma das minhas mãos.

A noite alongara-se e, consequentemente, diminuiu a distância entre os dois até que se misturassem primeiro o calor dos nossos corpos e depois a nossa respiração, num jogo de beijos mordidos. Não sabia onde nos estávamos a conduzir e tu também não parecias com isso muito preocupada. Agora que cada qual está no seu cantinho, penso que terá sido por isso que o teu pescoço se entregava aos beijos que por ele começaram a passar e as tuas mãos brincavam com os caracóis do meu cabelo, puxando-te mais para ti.

O teu ventre dançava enquanto os meus dedos por ele passeava e acreditei que essa era a forma de fazer o teu púbis quase neles se roçar. Assim, quando as nossas pernas se cruzaram, apertando-me tão erecto contra ti, deixei a minha mão cair pelas calças que acabara de abrir, até te segurar por baixo do fio dental. Os teus cabelos estavam curtos, hoje sei que os raparas quase todos como por vezes fazes, ficando os teus lábios soltos, gritando por uma carícia. Como estavas quente! O teu suspiro nasceu nos meus ouvidos e adivinhei-te molhada. Estavas mesmo. Descobri-o ao passear o dedo pelos teus lábios, por fora, como que experimentar-te, avançando pouco a pouco até ao teu clitóris.

Sinta-te arquear a cada pressão mais forte. Mas sei agora que a tua tesão explode quando começas a seduzir e realmente senti um fluxo quente descer por ti quando me abriste as calças e me pegaste levemente. Apertaste-me um pouco e senti-me latejar contra a tua mão enquanto me puxavas a pele para baixo até ter a cabeça toda descoberta.

A tua língua trouxe calor e humidade e acariciámo-nos em ritmo igual, com um prazer que dominava os nossos corpos. Ia em horas avançadas a noite, já ida há muito aquela altura em que ainda se faz algum ruído, quando eles entraram, sorrateiros. Blusas abertas, calças meias caídas, com o desejo estampado nos olhos, senti-me como num filme porno, daqueles em que sem que se saiba donde e porquê, entra um segundo casal na entretanto iniciada intimidade, reunindo-se os quatro em prazeres conjuntos, como se isso fosse o comportamento habitual.

Mas para nós não o era...
(continuação: parte 2)